Gastrostomia Endoscópica
O papel da gastrostomia endoscópica percutânea está bem estabelecido, desde a sua criação (1980), e vem sendo amplamente utilizada em pacientes pediátricos e adultos, possibilitando suporte nutricional seguro e efetivo com baixas taxas de mortalidade e morbidade. Trata-se de técnica operatória simples e com vantagens significativas sobre a gastrostomia cirúrgica e a sonda nasoentérica, devendo ser amplamente difundida entre pediatras e especialistas da área.
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Como é realizada a gastrostomia endoscópica?
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São três as técnicas mais utilizadas para a realização de uma gastrostomia endoscópica: técnica pull (Gauderer-Ponsky), puch (Sachs-Vine) e punção (Russel). As técnicas podem ser associadas ou não à técnica de sutura (Hashiba), que consiste na fixação da parede gástrica à parede abdominal utilizando dois a quatro pontos em U.
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No nosso serviço utilizamos a técnica pull ( Gauderer -Ponsk).
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A técnica pull inicia-se com a técnica safe tract, no qual a agulha usada para a anestesia é inserida na parede abdominal em direção à luz gástrica com o êmbolo tracionado até que entrem bolhas de ar na seringa - o que deve ocorrer ao mesmo tempo em que a agulha é visualizada entrando no estômago. É feita uma incisão na pele (1 cm) com o bisturi e dissecção dos planos até a aponeurose. É inserida agulha calibrosa (jelco 14), sob visão endoscópica, até a luz do estômago. Passa-se um fio guia longo pela agulha, que é apreendido pelo endoscopista com a alça de polipectomia. O fio é, então, retirado com o endoscópio pela cavidade oral, sendo fixado à sonda de gastrostomia, que percorre o esôfago e o estômago até ser exteriorizada pela parede abdominal. O endoscópio é reintroduzido para verificar o correto posicionamento da sonda, sendo que a aproximação das paredes gástrica e abdominal é mantida por tração entre o anteparo interno o externo.
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Cuidados pré-operatórios:​
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A orientação aos familiares quanto ao procedimento, seus riscos e complicações é a primeira medida a ser adotada. O preparo pré-operatório começa com investigação para avaliar possíveis contraindicações.
- Os pacientes ficam de jejum de acordo com a faixa etária e dieta utilizada.
- Os exames laboratoriais necessários: hemograma, plaquetas, coagulograma e albumina. As coagulopatias são contraindicações ao procedimento.
- A antibioticoprofilaxia com cefazolina 50 mg/Kg (máximo 1 g) em dose única uma hora antes do procedimento é obrigatória.
- A sonda a ser utilizada deve ser escolhida conforme a idade do paciente, em menores de um ano, 14 a 20 Fr. e em maiores de um ano, de 20 a 24 Fr.
Os cateteres de poliuretano parecem ser mais resistentes à deterioração do que os cateteres de silicone e estão associados a menos complicações durante as primeiras quatro semanas de uso.
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Cuidados pós-operatórios:​
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Após as primeiras 24 horas, a sonda de gastrostomia deve ser observada para avaliar se o anteparo externo não está muito justo devido ao edema pós-operatório da parede abdominal. Caso seja detectada tal situação, o anteparo externo deve ser ligeiramente afrouxado. Os demais controles são feitos com sete dias, um, três e seis meses após a GEP, período de mais complicações. A dieta pode ser reintroduzida quatro a seis horas após o procedimento e não há manipulação de alça intestinal reduzindo o risco de íleo paralítico.
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A sonda de gastrostomia deve ser mantida aberta até a primeira dieta e deve-se injetar 30 mL de SGI 5% para verificar a permeabilidade da sonda. A sonda deve ser mobilizada (sentido horário e anti-horário) e lavada com 40 mL de água filtrada após cada dieta. Deve ser realizada limpeza da parede abdominal ao redor da sonda com SF 0,9%.
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Após oito a 12 semanas do procedimento inicial, quando existe aderência adequada entre o estômago e a parede abdominal, as sondas de GEP podem ser substituídas por dispositivo rente à pele ou botons.
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Quando o cateter não é mais necessário, ele pode ser removido por tração, mantendo-se o orifício do estoma com curativo oclusivo, obtendo-se o fechamento espontâneo em um a dois.
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Complicações:​
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As complicações podem dividir-se em maiores e menores. Complicações maiores ocorrem, no total, em 1 a 2% dos casos e complicações menores em 7 a 14%.
Complicações menores
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As complicações menores são as mais comuns, relacionadas à colocação da sonda de gastrostomia. Estão diretamente relacionadas a estado nutricional do paciente, medicações em uso e cuidados com a sonda.
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A infecção no sítio pode variar de 5,4 a 30%, sendo a complicação mais comum.
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O principal tratamento é a prevenção com antibioticoterapia mas, uma vez instalada a infecção, o tratamento se dá com medidas locais mais antibióticos. Outras medidas que diminuem o risco de infecção incluem técnica adequada, tamanho adequado da incisão na pele e evitar tração excessiva do cateter ou compressão entre o anteparo interno e externo.
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O vazamento através do orifício da sonda varia de 1-2% a 2,18%. Está relacionado ao uso de agentes corrosivos (ácido ascórbico para cicatrização, aumento da secreção ácida, lavagem da sonda com peróxido de hidrogênio
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inflamação cutânea, desenvolvimento de tecido de granulação exofítica ao redor do estoma, Buried bumper syndrome,
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torção da sonda com ulceração de um dos lados do trajeto e ausência de anteparo externo.
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A saída inadvertida da sonda ocorre em 1,6 a 4,4% dos casos , metade antes da maturação do trajeto fistuloso (sete a 10 dias), nos pacientes em uso crônico de corticoesteroides, desnutridos ou com ascite. Esse processo pode demorar três a quatro semanas. Com o trajeto imaturo, a parede do estômago afasta-se da parede abdominal anterior, formando-se uma perfuração livre para a cavidade peritoneal. Se essa complicação é identificada imediatamente, pode-se colocar uma segunda sonda de gastrostomia usando-se o mesmo sítio de punção na parede abdominal. Se houver demora na identificação, na ausência de sinais de peritonite, deve-se se descomprimir o estômago com sonda nasogástrica, iniciar antibioticoterapia de amplo espectro e refazer a gastrostomia em sete a 10 dias. No caso de remoção tardia da sonda, é aceitável a colocação de um cateter com balão tipo Foley, certificando-se da posição intragástrica da sonda.
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Burried bumper syndrome (BBS) é caracterizada por complicação da migração do anteparo interno para a parede gástrica ou parede abdominal. O principal fator precipitante é a tensão excessiva entre o anteparo externo e interno. Fatores adicionais incluem anteparo interno muito rígido, desnutrição e cicatrização ineficaz e ganho de peso significativo em resposta à nutrição enteral. É uma complicação incomum, porém séria do GEP, ocorrendo na frequência de 0,3 a 2,4% . Em pacientes pediátricos, essa taxa é mais alta, 6,7%. Clinicamente, a síndrome manifesta-se com dificuldade de infusão da dieta pela sonda, vazamento ao redor da sonda, dor abdominal ou infecção local.
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Obstrução da sonda externa é encontrada em mais de 45% dos pacientes. A administração de alimentos e medicamentos espessos deve ser evitada. O tratamento é a limpeza com 30 a 60 mL de água injetados em uma seringa a cada quatro horas. A água morna é a melhor substância para desobstrução da sonda. Todo medicamento deve ser completamente dissolvido em água para ser injetado.
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Complicações maiores
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A localização do intestino delgado anterior à parede gástrica pode formar uma fístula gastrocolocutânea se a alça estiver interposta entre o estômago e a parede gástrica. Na maioria das vezes, os pacientes são assintomáticos, mas pode haver febre transitória ou íleo paralítico. O problema só é descoberto quando há retirada da sonda ou quando a sonda passa para dentro do cólon. Nesse caso há diarreia quando da administração da dieta. O diagnóstico é feito injetando-se contraste pela sonda de gastrostomia. A conduta é a retirada da sonda, aguardando-se o fechamento espontâneo.
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Gastroparesia e íleo terminal podem ocorrer ocasionalmente em 1-2%, como referido antes. Como não há manipulação de alça intestinal, existem poucas chances de que se verifique íleo paralítico. A suspeita se dá frente à persistência de distensão abdominal e à ausência de ruído hidroaéreo. Alguns pacientes beneficiam-se com metoclopramida e/ou eritromicina.
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Volvo gástrico é uma complicação rara, vista principalmente em pacientes pediátricos. Já foi demonstrado estômago, cólon transverso e intestino delgado ao redor da sonda de GEP. O tratamento é cirúrgico.
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